A conscientização ambiental evoluiu nos últimos anos, como mostramos no artigo Empresas estão mais conscientes na hora de tratar efluentes, mas ainda há muito o que melhorar. Um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) revelou que a indústria paulista descarta, ilegalmente, 9,7 milhões de litros de resíduos por hora em rios e nascentes. Diariamente, o descarte ilegal de efluente industrial conseguiria encher dois lagos do Parque Ibirapuera. O prejuízo causado por esse lançamento é comparável ao esgoto residencial não tratado gerado por 11,9 milhões de habitantes.
O estudo inédito realizado pelo Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da FGV, apresentou resultados em que 52% das águas monitoradas pela Cetesb estão contaminadas e 50% das amostras da pesquisa continham manganês, alumínio e ferro dissolvido. Esses metais pesados que, segundo a Cetesb, ocorrem também naturalmente em níveis elevados no solo natural da RMSP, em virtude da constituição geomorfológica da região, podem provocar desde irritações na pele e dores de cabeça até doenças hepáticas, rinites alérgicas e dermatoses.
A água poluída provoca muitas outras doenças, como você pode conferir em Conheça as doenças causadas pelo “não tratamento” do esgoto.
Esse cenário é ainda mais grave se considerarmos o estresse hídrico já insistente em nosso dia-a-dia e a falta de água que enfrentamos no momento, com menos de 15% de volume de água no Sistema Cantareira.
Apesquisa da FGV analisou os dados de descarte de 58.373 indústrias classificadas como de transformação. Essas empresas usam água de poços artesianos, captanto diretamente do manancial, com permissão dos órgãos competentes, ou das redes públicas de abastecimento. A cada 10 litros consumidos pela indústria, cerca de 9 litros são captadas dos poços.
Mas como mudar essa situação alarmante?
Os pesquisadores da FGV sugerem que, para começar, o monitoramento da água consumida dos poços artesianos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) deve começar a ser feita. Outra proposta é que os bancos públicos e privados exijam o descarte correto dos efluentes para conceder financiamentos. O estudo também defende a criação de um selo de lançamento sustentável, como o selo azul e verde, criado pelo governo paulista para certificar as cidades que adotam práticas sustentáveis.
Ao ter um selo voltado para o lançamento de efluentes, é esperado que os municípios e Estados combatam o descarte ilegal de esgoto e tenham seus esforços reconhecidos.
Em carta aberta publicada no site do órgão ambiental, a CETESB reconhece que muitas indústrias despejam ainda seus efluentes nos corpos d’água, seja por falta de alternativa ou por não estarem servidos pela rede de coleta de esgotos. A universalização do atendimento de coleta e o tratamento dos efluentes colaboraria para a solução. Além disso, o aporte de mais recursos humanos para ampliar as ações de fiscalização seria bem-vindo e permitiria flagrar as empresas que efetuam lançamentos irregulares.
Tratamento de efluentes é parte da solução
Parte dos efluentes industriais é gerado e tratado pelas próprias indústrias em estações de tratamentos in loco, para isso, além de todo o equipamento e manuteção adequadas, é necessária uma outorga junto aos órgãos ambientais competentes para que o efluente tratado seja descartado de forma adequada na natureza.
Outra parte dos efluentes industriais é transportado das indústrias por meio de caminhões para descarte direto em estações de tratamento de efluentes especialmente dedicadas para esse recebimento. Nesse caso, o gerador deve solicitar o Cadri (Certificado de Aprovação para Destinação de Resíduos Industriais), emitido pela Cetesb.