Estar adaptado às demandas da globalização, por parte das empresas, não significa apenas manter o mesmo nível de competitividade econômica e produtiva do mercado. Atualmente, significa também ir de encontro às demandas ambientais voltadas ao mundo corporativo. Nesse contexto, o segmento industrial é o principal gerador de resíduos do planeta, seja qual for a atividade desenvolvida. De acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, em seu artigo 48, “impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas”. Esse cenário se enquadra também quando falamos dos lodos gerados pelas atividades industriais e Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), principalmente no Estado de São Paulo, onde se encontra a maior parte das indústriais e população urbana do país.
Atualmente, grande parte desse tipo de resíduo é destinado para aterros sanitários, porém, com a pressão das diretrizes e metas estipuladas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, as empresas passaram a buscar alternativas ambientalmente responsáveis para que esse resíduo seja processado de forma apropriada antes da destinação final. Vale ressaltar que sem a intermediação de um processo ambiental, o material representa graves riscos à saúde e ao meio ambiente, pois em sua composição há a presença de microorganismos patogênicos e, em alguns casos, metais pesados.
Alternativas de tratamento do lodo: um desafio a ser enfrentado
O lodo é, basicamente, uma mistura de substâncias que contém minerais, colóides e material orgânico decomposto. De forma geral, o material pode ser classificado em duas categorias: orgânico e inorgânico. Seu tratamento adequado depende de fatores como tecnologia, disposição final e espaço físico disponível, uma vez que cada uma dessas variáveis pode alterar as características físicas, químicas e biológicas do lodo.
De caráter complexo, o tratamento do lodo tem basicamente dois objetivos: a redução de volume e a estabilização de matéria orgânica. Todos os sistemas de tratamento de esgotos geram resíduos: escuma, material gradeado, areia, lodo primário e lodo secundário. A disposição desses subprodutos depende do teor de sólidos presente nos resíduos, já o material gradeado, a escuma e a areia devem seguir para disposição final em aterro sanitário.
Por sua vez, os lodos primários e secundários necessitam de tratamento antes da disposição final. É a resolução 375, de 30 de agosto de 2006, do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que define os critérios a serem seguidos para a utilização do lodo. Os tipos de tratamento são baseados em consonância com o objetivo pretendido, mas estão divididos em adensamento, estabilização, desaguamento, secagem térmica e incineração.
Vale ressaltar que a destinação final dos resíduos dos sistemas de tratamento de esgoto e água (como é o caso do lodo) é um verdadeiro desafio para os países, tanto do ponto de vista técnico quanto do econômico. O processo, segundo o Programa de Pesquisas em Saneamento Básico (Prosab) é complexo, além de representar 20% a 60% dos custos de operação de uma ETA/ETE (estação de tratamento de água ou de esgoto). Retomando a informação da introdução, como apenas cerca de 40% do esgoto produzido no país recebe o correto tratamento, as perspectivas de aumento na geração lodo são ainda maiores, o que agrava a problemática.
Possibilidades de destinação: o que fazer com o lodo?
Em um contexto de crescimento demográfico e a maior demanda por recursos hídricos e o tratamento de efluentes, a preocupação acerca do que fazer com os resíduos do processo, o lodo, também cresce de maneira proporcional. Subprodutos que podem trazer prejuízos ao ecossistema e à saúde, os lodos, se submetidos a tratamento, podem ser destinados para as mais diversas funções.
Nesse quadro, uma das destinações mais nobres é o uso para a produção de fertilizantes orgânicos para a agricultura, visto que o lodo é rico em matéria orgânica. Tijolos cerâmicos, concretos, combustíveis, dentre outros, estão entre os produtos que também podem usar o lodo industrial ou lodo sanitário como matéria-prima. Cumpre notar que há ainda tecnologias que aproveitam o lodo como fonte de energia térmica e elétrica, e as cinzas provenientes da queima do material, graças ao alto teor de fósforo em sua composição. Confira como o lodo industrial e sanitário pode ser tratado?
Os métodos de tratamento podem ser:
Compostagem: processo natural de tratamento de resíduos orgânicos através da atividade de microrganismos aeróbios presentes nos próprios resíduos;
Digestão anaeróbia: tratamento por decomposição que gera biogás, sendo que as sobras de resíduos sólidos podem ser tratadas para formar composto orgânico;
Digestão aeróbia: modalidade para pequenas instalações, onde as bactérias aeróbias sofrem fermentação, transformando-se em acetato, que irá produzir metano;
Incineração: os resíduos são queimados a uma temperatura de 1200º graus durante o processo, reduzindo o volume e aproveitando a produção de calor e energia.
Todos essas formas de destinação apontam para caminhos diferenciados em relação a destinação do lodo para os aterros sanitários. Com os avanços da tecnologia ambiental e a atual oferta de soluções compatíveis com a complexidade exigida pelo tratamento do lodo, é possível reverter o quadro de prejuízo ambiental e promover o reaproveitamento e a revalorização do resíduo, que passa a ser visto como subproduto útil e economicamente viável.