Pode parecer um contrassenso, mas a indústria cosmética que fabrica produtos de higiene e beleza é uma grande geradora de resíduos e dar destinação correta a eles, vai além de uma questão de responsabilidade ambiental; é uma determinação legal a ser cumprida.
No entanto, o processo de gestão dos efluentes industriais possui especificidades e requer capacitações muito diferentes das usadas pelas empresas na produção dos cosméticos. E é aí que três grandes desafios se apresentam: armazenar, transportar e tratar esses resíduos.
Armazenamento
Os tipos de resíduos variam de acordo com a matéria-prima e substâncias utilizadas na produção. Analisar, classificar e quantificar esses resíduos é muito importante para definir o local do armazenamento, a escolha do recipiente de acondicionamento apropriado e definir regras e orientações para o manuseio e transporte.
Um local adequado de armazenamento otimiza os procedimentos operacionais, atende à legislação ambiental e normas de segurança, minimiza custos com transporte, permite coletas em quantidades maiores e diminui o desperdício, uma vez que muitos resíduos são reaproveitados.
Pela norma técnica NBR 11.174, os resíduos devem estar armazenados em local apropriado, identificados e classificados. O local de armazenamento deve considerar a minimização dos riscos de contaminação e serem aprovados pelo órgão estadual de controle ambiental. Devido à periculosidade, o acondicionamento dos resíduos industriais é feito em tambores e bombonas, homologados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO).
Transporte
Um segundo desafio a ser enfrentado pelas empresas do setor cosmético é o transporte adequado dos efluentes. Ter cuidado é imprescindível nesse trabalho, pois os resíduos podem concentrar poluentes, inclusive metais pesados e até amônia. Como cada resíduo possui características específicas, com diferentes concentrações de poluentes, na maior parte dos casos, devem ser transportados separadamente.
Para coletar os materiais, é preciso possuir licenças no IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), INMETRO e nas companhias ambientais de cada Estado. No Estado de São Paulo, o órgão responsável é a CETESB e o documento de autorização é o CADRI (Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental). Com este certificado, a empresa poderá fazer o transporte dos resíduos até seu destino final.
O método mais indicado na coleta é o feito com a utilização de bomba de auto vácuo, que capta os resíduos de forma selada, impedindo sua exposição com o ar. Os veículos (caminhões) usados também devem ser adequados com equipamentos específicos e possuir capacidade coerente com a quantidade de efluentes a ser transportada. Entre esses equipamentos, estão o compressor de anel líquido, para dar acesso a locais difíceis e profundos, e o sistema de hidrojateamento, que permite a realização da autolimpeza. Com essa funcionalidade, o transporte fica mais prático e seguro.
Tratamento
O terceiro desafio é a fase final – o tratamento dos efluentes industriais cosméticos. São duas as alternativas a serem consideradas: on site, por meio da construção de uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), ou off-site, método indicado para empresas que não têm espaço para instalações próprias ou que não desejam investir na construção e operação de uma ETE. No off-site é necessário a contratação de uma empresa terceirizada.
É preciso considerar, também, que há tratamento indicado para cada tipo de resíduo. Uma avaliação técnica deve indicar a carga poluidora e as características do resíduo, para só então destiná-lo para o processo mais adequado.
Alta complexidade
A boa gestão dos resíduos industriais resulta em redução nos custos de produção, ao implementar os 3Rs: redução, reutilização e reciclagem. Entretanto, a alta complexidade de todo o processo de tratamento desloca a empresa de sua atividade principal.
O tratamento de efluentes provenientes da produção de cosméticos não é fácil de ser tratado. Para se ter uma ideia, o parâmetro para lançamento do efluente tratado na rede pública de esgoto determina, em média, a redução de 80% a 90% da carga orgânica, que para espaços pequenos, exige tecnologias compactas, eficientes e que exigem um valor de investimento considerável .
Neste sentido, uma das alternativas mais econômica e operacionalmente viáveis está na terceirização do serviço, evitando preocupações com questões como espaço para operação de ETE dedicada, mão de obra qualificada e adequação às exigências legais para a destinação final dos resíduos.