Um vazamento de chorume causou a contaminação de um canavial na cidade de Franca, no interior de São Paulo. O líquido poluente resultado da decomposição de resíduos orgânicos percorreu longo caminho até atingir a propriedade de cana-de-açúcar e córrego próximo ao local, comprometendo a biota da área atingida. As investigações realizadas pela CETESB indicam que trata-se de uma incidente ocorrido no aterro sanitário da cidade. A empresa responsável pela gestão do aterro, justifica que as chuvas podem ter ocasionado o problema e informa que monitora a situação no local.
Diante desse cenário, fica a pergunta: não seria possível prever e evitar tal acontecimento?
Planejamento e dimensionamento correto
Não é preciso ser especialista ou atuar na área para chegar à conclusão de que houve equivoco no dimensionamento da lagoa construída para armazenar o chorume. É possível, ainda, que a quantidade de lixo encaminhada para o aterro tenha aumentado com o passar dos anos, mas a lagoa não tenha sofrido a devida expansão proporcional. Se mais lixo é produzido e recolhido, os resíduos orgânicos nele presentes consequentemente produzirão mais chorume. E, se não há espaço para armazená-lo, obviamente forçaria o derramamento do efluente.
Para o erro não se repetir, o aterro sanitário de Franca poderá sofrer sérias punições impostas pela CETESB, caso seja comprovada a negligência pela falta de ações preventivas a acidentes como o ocorrido.
Algumas medidas simples e plenamente viáveis evitariam tal dano:
- Desenvolvimento de estudo para analisar a situação do aterro e prever a expansão das lagoas destinadas a receber o chorume;
- Caso o transbordamento parecesse inevitável devido ao erro de dimensionamento, dispositivos de contenção poderiam ter sido instalados para evitar o pior, sobretudo em épocas de chuvas intensas;
- Por grande parte das empresas e aterros sanitários não possuírem um sistema de tratamento próprio ou compatível para o descarte direto, o chorume deve ser encaminhado periodicamente para uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) especializada no recebimento, monitoramento e tratamento do efluente. A quantidade de caminhões deve ser dimensionada de acordo com o volume de geração (importante considerar o aumento na época de chuvas) e a ETE deve ter capacidade para recebimento (também importante avaliar a capacidade no pico de geração).
Acidentes ambientais de qualquer ordem não são aceitos pelos órgãos reguladores e pela sociedade em geral. Suas consequências para a vida e a natureza podem ser desastrosas e duradouras. Empresas particulares e administrações públicas devem contar com o trabalho de companhias especializadas em deslocar e tratar resíduos de forma adequada, seguindo todas as leis em vigor: trata-se de uma atitude responsável e admirada, que evita manchetes tristes como a aqui anunciada.
Você pode ter mais informações na reportagem do G1.